Casa Pia no Passado:
A Casa Pia de Lisboa foi criada em 1780, por Diogo Inácio de Pina Manique, no reinado de Dª. Maria Pia. O Objectivo desta instituição foi o de dar resposta aos graves problemas sociais que existiam naquela época. Mas não foi fácil a realização deste projecto uma vez que movido por invejas de valores alheios sempre despertaram e pela má vontade que outros revelaram para além das despesas tão vultuosas que iriam sair dos cofres do reino.
No entanto Diogo Inácio de Pina Manique, intendente geral da policia da corte e do reino, mostrou sempre firmeza e determinação em levar por diante este projecto tendo para isso de utilizar uma estratégia, recorrendo então ao Arcebispo Tessalónico, o confessor da Rainha e seu grande colaborador. Assim, nasce a Casa Pia no Castelo de São Jorge em 20 de Maio de 1780. O primeiro nome que foi dado pelo seu fundador foi Casa da Força, por ser destinada a recolher homens e mulheres de mau porte e presos pela polícia. A padroeira da Casa Pia de Lisboa foi a Rainha Santa Isabel, por isso foi escolhido o dia 3 de Julho para a inauguração, dia da Santa Padroeira. À inauguração vieram pessoas célebres: a Rainha do Brasil e suas damas, outros dignitários da Igreja, Dº. João de Bragança e o Duque de Lafões.
Mas a Casa da Força tornava-se pequena para dar resposta a um público tão variado e numeroso constituído por assassinos, salteadores, vigaristas, prostitutas e órfãos. Tão grandes eram os vícios como as carências e por isso exigiam formas de atendimento e soluções diferenciadas. Por isso as obras de alargamento continuaram, a própria Casa da Força subdividiu-se dando origem à Casa de Nossa Senhora do Carmo para albergar os homens, à Casa da Santa Maria do Cartona para as mulheres e para os criminosos é criada a Casa de Nossa Senhora do Livramento.
Surge também o Colégio e Casa de Educação de Santo António para os rapazes e a correspondente Casa da Rainha Santa Isabel para as meninas órfãs. Posteriormente surge a Casa de Nossa Senhora da Conceição para as raparigas de maior idade e um pouco mais tarde a Casa de São José para abrigar órfãos pequenos.
Se a primeira condição já estava concretizada que era a protecção e abrigo destas pessoas, então outros valores mais nobres começaram a surgir no horizonte. Assim, não bastava tê-los retirado do meio da pobreza, delinquência e abandono em que se encontravam, alimenta-los o suficiente e atempadamente e não bastava vesti-los. Era necessário educá-los e por isso foram-lhes ensinados desde a arte de saber estar à mesa, ao próprio relacionamento em sociedade, não bastava ainda tê-los feito sentirem-se úteis e eram-no de facto pois foi-lhes propiciado em frequentes casas o lucro próprio através da manufacturação da tecelagem, fiação, cordoaria, costura, latoaria e muitos outros ofícios úteis à sociedade de então.
Mas era necessário muito mais…era necessário cultivá-los, instrui-los através da formação cristã para que os filhos desses pudessem vir a ser um exemplo presente e verdadeiramente úteis à sociedade Por esta razão desde o inicio da fundação desta instituição que Diogo Inácio de Pina Manique, promoveu a aprendizagem do ensino da leitura, escrita e da gramática portuguesa que António José Lobdia aplicadamente ministrava. Em simultâneo era também ministrado o ensino da arte e do desenho, fazendo deste último um dos esteios prioritários do ensino. Esta tarefa foi confiada em 1781 ao grande pintor António Fernandes Rodrigues. Também o ensino das línguas não foi esquecido e assim ergueu-se o Colégio de São Diogo onde se aprendia alemão, contabilidade e escrituração mercantil.
Para os alunos mais promissores foi criado o Colégio de São Lucas onde se ensinava os mais heterogéneos ramos do saber; onde se aprendia gramática latina; francês; inglês; astronomia; navegação; química; arquitectura; fortificação; artilharia; botânica; óptica; anatomia; cirurgia; obstetrícia e farmácia. Estes últimos ramos incluíam aulas práticas dadas no Hospital de São Francisco Xavier.
Diogo Inácio de Pina Manique, deu sempre um relevo particular à arte, por essa razão mandou contratar bons mestres italianos que vieram para Portugal, desses pintores destacamos Labrizzi, Domenico Crovi Batonio e muitos outros que ensinaram arte a estes meninos de ninguém, meninos a quem este homem fez meninos de tudo.
Mais tarde surge então a Régia Academia Olissipolence de Pintura, Escultura e Arquitectura que viria a ser o embrião da futura Academia de Belas Artes de Lisboa.
Além da arte e dos saberes a Casa Pia é ainda mais abrangente e assim em 15 de Fevereiro de 1884 deu-se um evento que merece especial relevo, assim, por decreto de António de Aguiar o Colégio de surdos passa a depender administrativamente da Casa Pia de Lisboa. É de salientar a obra realizada por Jacob Rodrigues Pereira, pioneiro em Portugal no ensino de surdos, dedicando a sua vida a esta causa, adquiriu êxito, fama e prestígio internacional, a Casa Pia homenageou-o continuando a sua obra e dando o seu nome a um dos colégios da Casa Pia – Instituto Jacob Rodrigues Pereira. Actualmente é neste colégio ministrado o ensino integrado que engloba crianças surdas e ouvintes.
Casa Pia na Actualidade:
Nos nossos dias a Casa Pia de Lisboa é imbuída de uma dinâmica educativa, que implica a formação integral das crianças, jovens e adultos que tem a seu cargo. É dirigida por uma Provedoria que é presidida pela Presidente do Conselho Directivo Dra. Cristina Fangueiro e fazem parte desta instituição 10 estabelecimentos de educação e formação, sendo dois destes vocacionados para o ensino especializado. Os colégios da Casa Pia desde 2007 passaram a ser designados por Centros de Educação e de Desenvolvimento.
Actualmente a Casa Pia de Lisboa está sob a tutela do Ministério do Emprego e Segurança Social e integra os seguintes estabelecimentos:
- Centro de Educação de Desenvolvimento Pina Manique (o único com ensino secundário);
- Centro de Educação e de Desenvolvimento Dª. Maria Pia;
- Centro de Educação e de Desenvolvimento Nuno Álvares Pereira;
- Centro de Educação e de Desenvolvimento Santa Catarina;
- Centro de Educação e de Desenvolvimento Santa Clara;
- Centro de Educação e de Desenvolvimento Nossa Senhora da Conceição;
- Centro de Educação e de Desenvolvimento António Aurélio da Costa Ferreira;
- Instituto Jacob Rodrigues Pereira;
- Escola Agrícola Francisco Margiochi (Quinta do Arrife, Alcanede, Santarém);
- Centro Educativo de Acção Social (num bairro social no Monte da Caparica (Almada), apenas de ensino pré-escolar).
O Instituto Jacob Rodrigues Pereira tem as suas instalações em dois locais diferentes na cidade de Lisboa situando-se uma em Belém e a outra na Rua de São Marçal e destinam-se como atrás já foi referido ao ensino e educação de crianças e jovens com deficiência auditiva.
O Centro de Educação de Desenvolvimento António Aurélio da Costa Ferreira; tem como objectivo a educação e reinserção de crianças, jovens e adultos surdocegos, tal como o apoio às suas famílias. Tem as suas instalações em dois locais diferentes na cidade de Lisboa situando-se uma em Alvalade e outra a funcionar no antigo Lar Augusto Poiares no Centro de Educação de Desenvolvimento Pina Manique designado por Centro de Novas Oportunidades (C.N.O.) para pessoas com deficiência visual, auditiva e surdocegueira, proporcionando-lhes nova esperança na certificação das suas competências.
Os estabelecimentos da Casa Pia, acolhem e recebem instrução actualmente mais de 5480 Educandos de ambos os sexos, que frequentam a instituição sob diversas modalidades, sendo:
- como alunos externos;
- como alunos semi-internos (ficam ao cuidado do Centro durante o dia, usufruindo de apoio alimentar e logístico até cerca das 19h00, da programação escolar, actividades desportivas, lúdicas e culturais como os alunos internos);
- alunos em regime de internamento (distribuem-se ao longo dos vários Centros, em lares ou residências, cada um destes alberga cerca de 20 educandos, a maioria destes lares possui o nome de antigos alunos e Provedores da Casa Pia de Lisboa).
A nível de currículo escolar a Casa Pia ministra desde o berçário até ao ensino complementar oferecendo ainda o ensino técnico-profissional que abrange mais de 43 cursos distribuídos por três níveis de qualificação:
- o nível I (para alunos com o mínimo de 14 anos de idade e frequência do sexto ano);
- o nível II (para alunos com o segundo ciclo);
- o nível III (para alunos com o terceiro ciclo).
Esta instituição tem uma gama variadíssima de cursos técnico-profissional, concede ainda bolsas de estudo para jovens vocacionados para formação superior.
A Casa Pia contempla também os seus ex-alunos: estes cultivam uma mística muito própria e sentem muito orgulho em serem casapianos mantendo-se ligados entre si através das várias instituições por ele criados e administrados, tais como:
- Fundação Pina Manique;
- Jornal mensal “O Casapiano”;
- Acção Casapiana de Solidariedade;
- O Casa Pia Atlético Clube;
- As Décadas (Associações de ex-alunos conforme a década em frequentaram a instituição).
Além destas instituições por eles criadas a obra mais recente é o lar para a 3ª idade destinado aos ex-alunos, que pelas diversas circunstancias da vida não têm apoio na sua velhice e doença, proporcionando-lhes assim um final de vida dignificante e harmoniosa.
domingo, 28 de novembro de 2010
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A Rainha D. Maria Pia só Reinou a partir de 1862, portanto, a rainha que reinava nesta época era a D. Maria I...
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